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O relativismo moral PTista

O vereador Pedro Tourinho (PT) pode não ter lido Maquiavel, mas certamente segue a agenda do Novo Príncipe, o seu partido.

Em artigos anteriores o relativismo moral do vereador-militante Pedro Tourinho foi devassado, mas nada consegue ser tão baixo quanto o presente episódio de proporções maquiavélicas.

No fim do ano passado o vereador Pedro Tourinho mais uma vez uso indevido do seu cargo (que deveria servir exclusivamente à população de Campinas) para fazer militância política. O desprezo pela coisa pública é tamanho que o nobre vereador não hesitou em apresentar a moção 161/2014 que, pasmem, “Protesta contra o Deputado Federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), pela violência dirigida à Deputada Federal Maria do Rosário (PT-RS)”.

Ao apresentar tal moção Pedro Tourinho tenta vender a imagem de vítima de sua companheira de partido Maria do Rosário, sem, no entanto, dar a dimensão cronológica dos fatos. A gritaria em torno do episódio encobre um crime anterior de difamação (Art. 138 do Código Penal) cometido justamente pela PTista.

Em 2003 ocorreu um bate boca entre os deputados Jair Bolsonaro e Maria do Rosário em que ela o acusava de ser um estuprador justamente por… apresentar projeto de lei que endureciam as penas para os estupradores! Em resposta à provocação de Maria do Rosário (que é contrária a punição mais severa) Jair Bolsonaro disse que não era estuprador, mas que se o fosse não a estupraria porque ela não merecia.

O vídeo da grosseria mútua pode ser conferido aqui.

Se existe alguma vítima aqui esta é quem foi chamado de estuprador sem que as devidas provas fossem apresentadas. Trata-se, portanto, de um crime que atenta contra a honra, mas exigir do vereador-militante Pedro Tourinho tal distinção dos fatos seria negar-lhe a própria natureza PTista.

Para complicar ainda mais a questão é necessário questionar o vereador-militante o porquê é ofensivo quando Jair Bolsonaro diz “você não merece ser estuprada” se o mesmo não é considerado ofensivo quando a jornalista Nana Queiroz lança a campanha “eu não mereço ser estuprada”.

Mais ainda, quando o filósofo Paulo Ghiraldelli defendeu “MEUS VOTOS PARA 2014: que a Rachel Sherazedo [SIC] seja estuprada” não houve qualquer movimento de repúdio vindo de Pedro Tourinho. Muito pelo contrário, ele ainda apresentou uma moção acusando-a de incitar a violência! Essa excrescência política foi dissecada aqui.

Desde logo fica claro o duplo padrão de moralidade do vereador-militante Pedro Tourinho. Assim, fica evidente que Tourinho não está a serviço do povo de Campinas, mas atende aos interesses do seu partido, o Novo Príncipe, e a prova maior disso pode ser encontrada na obra de Maquiavel.

“Donde pode-se tirar uma regra geral que jamais ou raramente falha: aquele que promove o poder de um outro perde o seu, pois tanto a astúcia quanto a força com as quais fora ele conquistado parecerão suspeitas aos olhos do novo poderoso.”

Nicoló di Bernardo dei Machiavelli, O Príncipe, trad. Antonio Caruccio-Caporale, L&PM, 2011 p. 19

“Portanto, não pode nem deve um soberano prudente cumprir as suas promessas quando um tal cumprimento ameaça voltar-se contra ele e quando se diluem as próprias razões que o levaram a prometer.”

Nicoló di Bernardo dei Machiavelli, O Príncipe, trad. Antonio Caruccio-Caporale, L&PM, 2011 p. 86

É por isso que jamais veremos Pedro Tourinho confessando que Jair Bolsonaro é a real vítima de uma calúnia monstruosa. Reconhecer o valor moral de Bolsonaro é diminuir o poder do partido em exercício.

“…a natureza dos povos é mutável, e, se é fácil persuadi-los de algo, é difícil perpetuá-los nesta persuasão. Eis a razão da conveniência em instaurar-se uma ordem tal que, ao serem estes povos tomados pela descrença, possa-se fazê-los crer à força.”

Nicoló di Bernardo dei Machiavelli, O Príncipe, trad. Antonio Caruccio-Caporale, L&PM, 2011 p. 29

A orientação do partido não poderia ser mais clara. Se alguém ousa apontar responsabilidades em relações espúrias a resposta virá pela censura.

Lembremos que no momento está em discussão a “democratização dos meios de comunicação”, um eufemismo para censura via controle financeiro (conferir o engodo aqui).

“…os príncipes que mais se destacaram pouco se preocuparam em honrar as suas promessas; que, além disso, eles souberam, com astúcia, ludibriar a opinião pública; e que, por fim, ainda lograram vantagens sobre aqueles que basearam as suas condutas na lealdade.”

Nicoló di Bernardo dei Machiavelli, O Príncipe, trad. Antonio Caruccio-Caporale, L&PM, 2011 p. 85

Ora, políticos falam por meio de símbolos, imagens estas que evocam medo ou esperança e, ao vender o projeto como democratização dos meios de comunicação o governo sub-comunica ao eleitorado que ele mesmo é um legítimo representante da ordem republicana, bastando ao opositor o signo de totalitário, fascista, nazista etc. O embuste consiste justamente em chamar de democratização aquilo que não passa de censura sutil. Se o exemplo ainda não está suficientemente claro lembro aos leitores deste blog que a revista Veja teve seus anúncios estatais cancelados após denúncia de que Lula e Dilma sabiam dos desvios na Petrobrás e, antes disso, a jornalista Rachel Sheherazade foi proibida de emitir seus comentários sob pena do SBT ter os anúncios estatais retirados de circulação.

Diante do exposto o eleitor pode estar se perguntando se o vereador-militante não estaria muito aquém de suas atribuições. Ao invés de legislar para o bem da cidade ocupa-se de questões menores que interessam ao partido, apenas.

Tal afirmação seria particularmente verdadeira se raciocinássemos aristotelicamente, com foco em lógica, ética e respeito à oposição de idéias. Ocorre que Pedro Tourinho filiou-se ao PT justamente por não comprometer-se com os seus afazeres, mas por subverter a ordem em benefício do Novo Príncipe.

“Ora, um homem que de profissão queira fazer-se permanentemente bom não poderá evitar a sua ruína, cercado de tantos que bons não são. Assim, é necessário a um príncipe que deseja manter-se príncipe aprender a não usar [apenas] a bondade, praticando-a ou não de acordo com as injunções.”

Nicoló di Bernardo dei Machiavelli, O Príncipe, trad. Antonio Caruccio-Caporale, L&PM, 2011 p. 75

“A um príncipe, portanto, não é necessário que de fato possua todas as sobreditas qualidades; é necessário, porém, e muito, que ele pareça possui-las. (…) Por isso, será preciso que ele possua uma natural disposição para transmudar-se segundo o exijam os cambiantes ventos da fortuna e das circunstâncias, e, como eu dizia acima, que, havendo a possibilidade, ele não se aparte do bem, mas que, havendo a necessidade, saiba valer-se do mal.”

Nicoló di Bernardo dei Machiavelli, O Príncipe, trad. Antonio Caruccio-Caporale, L&PM, 2011 p. 87

Neste sentido o vereador-militante é extremamente competente no que faz. Com fala mansa e discurso inclusivo passa por aquilo que ele mesmo não é em essência:  um defensor da moralidade. Seu relativismo moral valida as teses do partido e oferece uma aura de renovação ao que está profundamente corrompido.

“Cada qual vê o que pareces ser; poucos têm o sentimento daquilo que de fato és; e estes poucos não ousam contrapor-se à opinião dos muitos, que contam, em sua defesa, com a majestade do Estado. (…) Em sendo assim, o príncipe deve fazer por onde alcançar e sustentar o seu poder: os meios serão sempre julgados honrosos e por todos elogiados, e isto porque apenas às suas aparências e às suas consequências ater-se-á o vulgo, este vulgo cuja presença é predominante no mundo.”

Nicoló di Bernardo dei Machiavelli, O Príncipe, trad. Antonio Caruccio-Caporale, L&PM, 2011 p. 88

Para que a fraude fosse completa a moção do vereador Pedro Tourinho não poderia ser mais ilustrativa se o conteúdo não fosse uma cópia de artigo veiculado pelo próprio partido no que concerne às mulheres.

“E considero o seguinte: que mais vale ser impetuoso que circunspecto, pois que a fortuna é mulher, e, para mantê-la submissa, é preciso batê-la e maltratá-la [sic]. Notamos que ela deixa-se melhor dominar por quem assim procede do que pelos que se portam com frialdade. Por esse motivo, como é mulher, ela é sempre amiga dos jovens: estes são menos judiciosos, mais aguerridos e mais audazes ao comandá-la.”

Nicoló di Bernardo dei Machiavelli, O Príncipe, trad. Antonio Caruccio-Caporale, L&PM, 2011 p. 124

Em tempo: endossam a moção os vereadores Carlão do PT e Paulo Bufalo (PSOL).